terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cristo Rei e o Advento




A vinda de um rei justo, santo e sábio, totalmente diferente dos monarcas humanos, havia sido profetizada muitos séculos antes que o Verbo divino se fizesse homem e viesse habitar em nosso meio.
Lê-se no livro da sabedoria que a palavra onipotente de Deus, que é o seu Filho único, no meio da noite, desceu do seu trono real. Cristo, com efeito, antes de se encarnar no seio da virgem, já reinava como Deus que era com o Pai e o Espírito.
Os profetas não anunciaram apenas a vinda do rei glorioso, que haveria de libertar o povo de Israel dos seus pecados, mas também de um reino indestrutível, que subsistiria pelos séculos, e que nunca seria destruído.
Como Deus, Cristo sempre foi rei, já que o mundo, por ele criado, sempre esteve submetido ao seu poder divino. Como homem, segundo costumavam dizer os padres da Igreja, Cristo reinou no alto da cruz, a qual foi o seu trono.
Como são incompreensíveis os mistérios divinos e como Deus é totalmente diferente dos homens!
Quem acreditaria ser rei quem se dignou lavar os pés dos seus vassalos? Quem creria na realeza de um rei que terminou a sua vida pregado numa cruz, entre dois vis malfeitores?
A realeza de Cristo distinguiu-se sobretudo pelo serviço amoroso prestado aos homens. Deus veio servir e oferecer sua vida em resgate pela multidão. Poderia ter imposto a sua realeza mediante a força, mas preferiu chamar os homens a si pelo amor e pela humildade.
O rei que veio não nasceu no esplendor de um palácio, mas nas palhas de um presépio, o rei que veio remir o homem com o seu sangue, não veio para ser bajulado pelos mortais, mas para lhes conceder vida em plenitude.
Cristo mostrou ser um rei diferente quando disse a Pilatos que o seu reino não era deste mundo, quando disse aos judeus que o seu reino não viria de um modo estrondoso, mas que o reino de Deus está dentro de nós.
Cotidianamente imploramos a vinda deste reino de paz, justiça e caridade, que tão ansiosamente aguardamos. O reino de Cristo começou modestíssimo, como um grão de semente lançado a terra, mas cresceu de modo tal, que inumeráveis aves do céu vieram encontrar abrigo neste reino divino.
O reino de Deus está na alma do cristão em estado de graça, pois se o reino de Deus é o próprio Cristo, quem o possuí em si, já participa da alegria de ser cidadão de um tão glorioso reino, já sente borbulhar dentro de si aquela divina alegria que corre como um rio para a vida eterna.
Que felicidade fazer parte do reino de Cristo na terra que, segundo a Lumem Gentium é a Igreja, pela qual nosso rei imortal perpetua sua presença entre nós! E que felicidade ainda maior saber que a despeito de todas as injustiças e misérias humanas, virá um dia o rei divino que já veio uma primeira vez na humildade de nossa carne, para introduzir na alegria definitiva do reino eterno aqueles que o aguardam para a salvação.
Conceda-nos Deus por sua bondade a graça de perseverarmos em seu reino na terra que é a santa Igreja, afim de um dia, entrarmos em plena posse daquele reino de paz e justiça, onde a lei é o amor, os habitantes são irmãos que se amam verdadeiramente no Senhor, e onde Deus é a suprema felicidade. A ele, a glória pelos séculos. Amém.

Ir. Samuel Dantas de Araújo, OSB.

Foto: Ir. Antônio de Pádua (Ideval) Alves, Obl. OSB - Igreja Ortodoxa São Salvador sobre o sangue derramado em São Petersburgo - Russia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário